Como devem imaginar eu levo uma vida onde não faltam preocupações, algumas delas viscosas e desgastantes. São os compromissos, as diferentes tarefas, as rotinas saturantes, os afazeres que sou por vezes obrigado a adiar, a atenção dada aos filhos, etc. Vocês sabem como é pois, mesmo com vidas diferentes, todos nós estamos sempre envolvidos por preocupações.
As preocupações decorrem de prazos que temos de cumprir, de
atividades que têm de ser feitas (sobretudo as que não nos cativem), de
aborrecimentos variados, de indisposições, de doenças e tratamentos, até mesmo
de pessoas que nos aborrecem, e tudo o mais que vocês sabem tão bem como eu.
Ao fim de uns anos de sermos assolados constantemente por
preocupações chegamos a um ponto em que quase só nos restam duas saídas: ou
desistir de tudo (que é o que às vezes nos apetece fazer); ou arranjar um modo
qualquer de contornar os problemas. É óbvio que só teremos a chance de escolher
uma delas se, entretanto, o stresse, a ansiedade ou a depressão (ou todas juntas)
não nos tiverem abatido e colocado fora de combate.
UMA SOLUÇÃO NÃO IMPOSSÍVEL
Eu aprendi a preocupar-me o mínimo possível, distanciando-me
das coisas. É difícil e nem sempre tenho êxito nessa estratégia. Mas vale a
pena tentar.
O que costumo fazer é não me preocupar muito com assuntos
que não passam ainda de pensamentos acerca de algo não concretizado. Há pessoas
que começam cedo demais a preocupar-se com isto e com aquilo (tarefas, exames,
entrevistas, viagens, decisões distantes no tempo, etc.) e ocupam o pensamento
com toda a tralha que são capazes de imaginar, criando uma espiral de ansiedade
da qual não se libertam facilmente.
Também defino prioridades para as próprias preocupações para
que não me sufoquem. Ou seja, perante um novo problema, pergunto-me se tenho
que me preocupar mal ele surja. Geralmente, não vale a pena o desgaste. Além de
que, se me preocupar antes de tempo, corro o risco de perder energia e
discernimento para o resolver na hora devida.
Depois, tento quantificar a urgência e a importância do
assunto. É mesmo urgente pensar já nele? Quão grave é? Que impacto pode ter na
minha vida?
Se mantivermos alguma hipótese de nos distanciarmos
temporalmente e emocionalmente desse tipo de assuntos, as preocupações terão
menor impacto. Assim, quando chegar a altura de os enfrentarmos, estaremos mais
fortes para o fazer.
OUTROS ERROS
Muitas vezes antecipamos excessivamente cedo os motivos das
preocupações que infestam a nossa vida. E isto não é bom porque nos cansa e até
desmotiva.
Salvo raríssimas exceções, a maioria das preocupações não
valem a energia que nos fazem despender antes de tempo. Vivemos tempos difíceis
e atormentados. Temos de nos preocupar com isso, é verdade. Mas não poderemos
adiar para depois tudo aquilo que o simples pensar nisso possa trazer de mau?
Na hora certa, atuaremos. Sofrer antes, não. Se tivermos de sofrer, que seja na
hora certa.
Muitas vezes somos também contagiados pela atmosfera
emocional das pessoas facilmente preocupadas até com pequenas coisas, daquelas
que nem se pode dizer que são problemas. Mas que nos infetam com os seus
lamentos, os medos infundados, as repetições sucessivas das suas preocupações
quotidianas e banais, lá isso é verdade.
E, FINALMENTE...
Paremos para pensar. Façamos uma lista de tudo aquilo que
mereça a classificação de "motivo de preocupação" e arrumemos as
coisas conforme a sua urgência e importância.
Assim, mentalmente organizados, é mais fácil viver. Mesmo
que se avizinhem novas preocupações. Na hora certa, pensaremos nelas. Agora,
não. É a minha regra. E resulta quase sempre.
Nelson S Lima